Covid-19 mata 375 médicos e CFM cria portal para homenagear profissionais
Plataforma também tem área com documentos de referência, podcasts e reportagens sobre a doença, direcionada para este grupo de trabalhadores
28 de outubro de 2020
Levantamento do Conselho Federal de Medicina (CFM) apontou que 375 médicos morrem vítimas de covid-19 desde o início da pandemia no País. A entidade lançou ontem um memorial virtual para homenagear esses profissionais que morreram após a infecção.
Os dados sobre as mortes dos médicos foram obtidos com base em informações repassadas pelos Conselhos Regionais de Medicina, sindicatos médicos, sociedades de especialidades, secretarias estaduais e municipais de Saúde e casos divulgados pela imprensa. No País, há 523.528 registros ativos de médicos, de acordo com a entidade. Segundo o CFM, o São Paulo foi ao Estado que mais perdeu agentes para covid-19 – 58 profissionais. Na sequência estão Pará (51) e Rio (50).
“Estar na linha de frente desde o início de uma doença desconhecida e com um contágio altamente complexo. A nossa decisão foi de fazer uma homenagem para aqueles que perdemos e para quem está na linha de frente, para os que estão conseguindo enfrentar essa situação”, diz Helena Carneiro Leão, vice-corregedora do CFM. Segundo ela, o trabalho para levantar os óbitos teve início em maio e os dados foram relatados até a semana passada.
A plataforma ainda tem uma galeria de fotos de médicos na linha de frente e um espaço para que as pessoas mandem mensagens para os profissionais. O portal também tem uma área voltada para os médicos com documentos de referência, podcasts e reportagens sobre o covid-19.
No balanço até o dia 17 de outubro do Ministério da Saúde, foram registradas 69 mortes de médicos. A base do Ministério são casos notificados no Sivep-Gripe, que registra casos graves com internação e óbitos por Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG). “Para garantir a proteção desses profissionais – que atuam na linha de frente no combate à doença -, mais de 300 milhões de equipamentos de proteção individual (EPIs) já foram distribuídos. São máscaras, aventais, óculos e protetores faciais, toucas, sapatilhas, luvas e álcool”, informou a pasta.
Helena diz que tem ocorrido uma diminuição de casos graves e de óbitos ao longo dos meses, acompanhando a tendência nacional, e isso também está ligado ao esforço dos médicos na luta contra a doença. “Temos de destacar a importância do SUS e a condução da atenção primária. Os médicos de família e comunidade se fizeram presentes para evitar que a população fosse para o hospital em um quadro mais grave.”
Um dos primeiros médicos a morrer de covid-19 em Minas Gerais foi uma clínica-geral da cidade de Jequitinhonha, no Vale do Jequitinhonha, a 418 quilômetros de Belo Horizonte. Ramon Pinto Lobo, de 69 anos, tinha uma clínica na cidade, era o médico de um dos postos de saúde do município e fez plantão uma vez por semana no hospital local. A clínica morreu em Nova Lima, na região metropolitana da capital mineira, em 6 de maio, depois de passar por duas transferências hospitalares.
O médico foi internado no início de abril na unidade em que trabalhava. “Chegou para trabalhar muito fraco, desorientado, com diarreia e vomitando. Ajudei a carregá-lo. Ficou internado aqui por cerca de uma semana. Depois foi para Teófilo Otoni (cidade distante cerca de 450 km da capital)”, lembra um dos funcionários do hospital, Jackson Ribeiro Melo, de 32 anos.
O médico não foi diagnosticado com covid-19 no hospital em Jequitinhonha. “Parece que o contágio foi em Teófilo Otoni”, ressalta o funcionário. Ramon tinha comorbidades.
Boletim divulgado ontem pela prefeitura de Belo Horizonte a aponta que 57 médicos do sistema de saúde da cidade contraíram covid-19 desde o início da pandemia. O relatório não aponta número de mortes entre os profissionais. A categoria mais atingida no município, porém, é a de técnicos em enfermagem, com 216 casos.
Subnotificação
O Sindicato dos Médicos de São Paulo (Simesp) começou a compilar informações sobre mortes de médicos em abril e relatou 273 casos. “A gente fez um levantamento artesanal, porque estava vendo falta de dados sobre os profissionais de saúde mortas, mas é subnotificado. Falta de dados sobre isso. Pegamos notícias em todas as cidades do País. Foi como contar grão a grão, médico a médico morto, para fazer uma homenagem”, relata Victor Dourado, presidente do Simesp.
Ambos os levantamentos não têm informações se os profissionais estavam atuando na linha de frente e se todos que morreram ainda estavam em atividade. “A maior parte é atuando, porque os médicos acabam se aposentando tarde. Mas estamos tentando buscar parcerias para um sistema maior esses dados para mostrar o impacto nos médicos com dados científicos”, afirma Dourado.