Dois estudos mostraram o avanço do desmatamento no Brasil.
O estudo do Global Forest Watch mostra que, na soma de todos os biomas, não só a Amazônia, o Brasil foi o país que mais perdeu árvores em 2018 em todo o mundo – 1,3 milhão de hectares de florestas primárias, aquelas que não tinham sofrido interferência humana.
Se formos olhar só para a Amazônia Legal, os números do Imazom, Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia, mostram que entre agosto de 2018 e março de 2019, período que compreende o ciclo do desmatamento, a região perdeu 1.974 quilômetros quadrados de florestas, um aumento de 24% em comparação com o mesmo período anterior.
Foram números como estes que levaram cientistas de todos os países da União Europeia a publicar um manifesto na revista “Science”. Eles lembram que o Brasil, que abriga uma das últimas grandes florestas do planeta, está em negociações com o bloco, seu segundo maior parceiro comercial, e que a União Europeia deveria aproveitar essa oportunidade para garantir que o Brasil proteja os direitos humanos e o meio ambiente.
Os cientistas afirmam que as florestas, os pântanos e as savanas do Brasil são cruciais para uma grande diversidade de povos indígenas, para a estabilidade do clima e para a conservação da biodiversidade.
Além disso, dizem que parar o desmatamento faz sentido para a economia, já que as florestas são importantes para manter os padrões de chuva necessários à agricultura brasileira, e que recuperar terras degradadas e melhorar a produção poderiam atender à crescente demanda agrícola por pelo menos 20 anos, sem a necessidade de mais desmatamento.
Um dos autores deste manifesto é o brasileiro Tiago Reis; ele diz que a intenção foi chamar atenção para as medidas tomadas pelo novo governo brasileiro.
“O foco no Brasil é justamente porque nós temos acompanhado a evolução do novo governo e temos ficado muito preocupados com os discursos, mais efetivamente quando esses discursos começaram a se transformar em medidas concretas por meio dos decretos, das mudanças nas agências, os rearranjos quando o governo transfere, por exemplo, a Funai para o Ministério da Agricultura. Quer dizer, isso são medidas concretas que, de fato, acenderam o sinal de alerta para a comunidade científica internacional”, afirmou o cientista.
O ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, disse que muitos dos cientistas que assinaram a carta estão ligados a ONGs internacionais e que, por trás deste manifesto, há interesses comerciais.
“Há uma guerra comercial da agricultura brasileira, do agronegócio brasileiro, com os países europeus e com os Estados Unidos, enfim, com mercado internacional, para fornecer para a China, para fornecer em outros lugares. Então, tudo é pretexto para atrapalhar o agronegócio brasileiro. O Brasil é o país que mais preserva no mundo. Só de área de reserva legal em propriedades privadas, o Brasil tem o território da Itália, da Espanha e de Portugal juntos. Isso só de reserva legal. Sem contar unidades de conservação, terras indígenas e outras áreas de preservação”, disse Salles.
André Guimarães, coordenador da Coalizão Brasil Clima, disse que é possível conciliar desenvolvimento econômico e preservação do meio ambiente, como pedem os cientistas europeus na carta divulgada.
“Cabe a nós decidir se a gente quer respeitar esses requisitos ou não, se a gente quer tê-los como clientes ou não. É um papel nosso. Agora, o fato é que a gente cuidando do nosso meio ambiente, das nossas florestas, nós vamos abrir mercado, nós vamos poder exportar mais. Esse é o sinal trocado dessa mensagem. A mensagem que vem de lá de fora é: ‘Olha, vocês têm que ter um determinado comportamento’. A mensagem que a gente tem que levar daqui para fora é: ‘Ok, concordamos, a gente tem que reduzir desmatamento. Então vamos fazer negócios, vamos investir no Brasil para a gente poder atender essa demanda que vocês têm’. Inverter a lógica”.
O Ministério das Relações Exteriores também respondeu à carta dos cientistas europeus. Declarou que as alegações apresentadas são infundadas; que o Brasil conseguiu, nas últimas décadas, conciliar o combate ao desmatamento ilegal com a produção agrícola. Segundo o ministério, 66% do território brasileiro são dedicados à proteção e preservação da vegetação nativa.
O Itamaraty declarou ainda que o acordo em negociação com a União Europeia prevê a realização de práticas consistentes com os acordos internacionais de conservação da biodiversidade, manejo sustentável das florestas e mudança climática.
O ministério também afirmou que “eventuais medidas comerciais adotadas por qualquer governo estrangeiro contra as exportações agrícolas brasileiras, baseadas em diagnósticos infundados como esse seriam inaceitáveis”.