Estudo do Instituto de Pesquisa Econômica
Aplicada (Ipea) divulgado nesta terça-feira (19) aponta Alagoas como o
estado mais violento para negros no país, onde há a maior perda de
expectativa para homens da etnia ao nascer em razão da violência.
Segundo o estudo, feito com dados do
Sistema de informações sobre Mortalidade do Ministério da Saúde e do
Censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a
população de negros e pardos (93,9 milhões) quase alcança a de não
negros (96,7 milhões), mas a incidência de mortes violentas na primeira
parcela é muito maior.
A taxa de homicídios de negros no Brasil é
de 36 para cada 100 mil; para não negros, ela é de 15,2. Ou seja, para
cada homicídio de não negro no país, 2,4 negros são assassinados. Em
Alagoas, estado que encabeça a lista, o índice sobe para 17,4 negros
mortos para cada não negro assassinado. O Paraná é o único estado do
país onde há mais mortes de não negros.
"O negro é duplamente discriminado no
Brasil, por sua situação socioeconômica e por sua cor de pele. Tais
discriminações combinadas podem explicar a maior prevalência de
homicídios de negros vis-à-vis o resto da população", afirma o estudo do
Ipea.
O instituto também fez um cálculo de perda
de expectativa ao nascer para negros em razão da violência. A
estimativa leva em conta dois cálculos: "uma função sobrevivência
observada nos dados e uma função sobrevivência contrafactual, associada a
um cenário em que não houvesse violência. Essas funções sobrevivência
indicam a probabilidade de um indivíduo com determinada idade e outras
características (cor da pele, gênero e município de residência) viver"
até determinada idade.
Neste caso, os homens de cor negra perdem,
no geral, 3,5 anos de vida em sua expectativa ao nascer, contra 2,5
anos de um homem de outra etnia. A expectativa de vida média do
brasileiro é de 73,5 anos, segundo o órgão.
Novamente Alagoas figura em primeiro lugar
neste ranking. No estado, um homem negro tem sua expectativa reduzida
em 6,2 anos ao nascer. Em seguida estão Espírito Santo, com 5,2 anos, e
Paraíba, com 4,8 anos a menos. Santa Catarina possui o índice mais baixo
(2 anos a menos).
Quando são analisadas apenas as perdas
associadas a assassinatos, o fator que mais interfere na violência,
Alagoas também fica na frente: são 4,08 anos a menos para os negros.
Já quando a comparação leva em conta
apenas os homens não negros, Alagoas detém o menor indicador, com perda
de 0,5 ano. Neste quesito, Paraná apresenta-se como o estado mais
violento – perda de 3,95 anos para os não negros.
Segundo o Ipea, o levantamento tem como
objetivo analisar as mortes violentas e os impactos na expectativa de
vida da população, entendendo que, além de características
socioeconômicas, a cor da pele aumenta a probabilidade de alguém ser
assassinado. Segundo o documento, apenas 6,8% dos negros estão entre os
10% brasileiros mais ricos, enquanto que, dentre a população pobre, os
negros prevalecem: representam 55,28% da população entre os 50% mais
pobres do país.
"Por um lado, a letalidade violenta de
negros no Brasil associada à questão socioeconômica, em parte, já
decorre da própria ideologia racista. Por outro lado, a perpetuação de
estereótipos sobre o papel do negro na sociedade muitas vezes o associa a
indivíduos perigosos ou criminosos, o que pode fazer aumentar a
probabilidade de vitimização destes indivíduos, além de fazer perpetuar
determinados estigmas", afirma o estudo.
Mortes por acidentes e suicídios
Apenas dois quesitos analisados pelo Ipea –
taxa de suicídio e mortes por acidentes – apresentam indicadores
superiores para a população não negra em relação à negra em comparação
com o total dos habitantes do país em 2010.
Os autores do estudo demonstram
preocupação com a descrença da população negra com ajuda policial ao ser
vítima de violência. Cerca de 61,8% das vítimas de agressão negras não
procuram ajuda policial – contra 38,2% dos não negros. Nos questionários
do Ministério da Saúde analisados, 60,3% dos negros apontaram que não
vão até a polícia porque “não acreditam” na instituição; outros 60,7%
responderam que não queriam intervenção policial no caso por medo ou
represália. Quando se avaliam os dados da população não negra, os
indicadores caem para 39,7% e 39,3%, respectivamente.
Os dados do Ipea também mostram que a
população carcerária do país é majoritariamente negra: são 252.796 mil
negros e pardos, ante 169.975 não negros, conforme levantamento do
Departamento Penitenciário Nacional (Depen), do Ministério da Justiça.
O estudo, intitulado “Vidas Perdidas e
Racismo no Brasil”, é divulgado na véspera do Dia da Consciência Negra,
celebrado nesta quarta, dia 20 de novembro.
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