Uma pesquisa realizada pelo Ministério
da Saúde revela dados preocupantes sobre os números de suicídios
registrados na Paraíba. Segundo esse levantamento, 83 pessoas tiraram a
própria vida no Estado, só em 2013.
Nos últimos dez anos, os números ficaram
17% maiores nos jovens com idades entre 15 e 24 anos. Aumentaram ainda
em 20% entre pessoas com mais de 60 anos. De acordo com o levantamento, o
suicídio é a terceira causa de morte na adolescência. Fica atrás apenas
de acidentes de trânsito e homicídios.
A Organização Mundial da Saúde (OMS)
estima que para cada caso confirmado, há 20 tentativas frustradas. Para
cada tentativa mal sucedida, outras cinco pessoas planejam tirar a
própria vida e pelo menos 17 já pensaram ou pensam seriamente nisso.
O psiquiatra Ricardo Henrique Araújo diz
que se trata de uma situação trágica para os familiares que perdem
alguém assim. Na sua avaliação, o tema não deve ser omitido na imprensa,
com a ideia de que se for publicado vai estimular outros a cometerem o
mesmo tipo de ação.
Ele defende que isso precisa ser
divulgado junto com dados e debates que influenciem na mudança de
comportamento das pessoas que apresentam indícios de que podem tirar a
própria vida. “Trata-se de um mito, alimentado por muito tempo por
profissionais da imprensa e da saúde. O suicídio deve ser divulgado, mas
não como mais um fato. É importante que seja acompanhado de debates e
discussões que estimulem a diminuição desses casos”, argumenta.
O psiquiatra lembra que 70% das pessoas
que têm depressão apresentam tendências suicidas. Ele diz ainda que 90%
daqueles que se matam revelaram algum comportamento patológico que
poderia ter sido identificado e tratado com antecedência.
Para a psicóloga Ana Sandra Fernandes, é
importante ficar atento quando uma pessoa apresenta qualquer tipo de
transtorno emocional ou ameaça se matar. “A perda da perspectiva de vida
deve ser encarada pelos familiares como algo sério, a ameaça jamais
pode ser vista como forma de chamar atenção, pelo contrário, ela é a
evidência de que a pessoa precisa de uma orientação multidisciplinar, ou
seja, do acompanhamento de um psicólogo e de um psiquiatra”, explica.
Ricardo Araújo também é enfático ao
afirmar que quem avisa que vai tirar a própria vida, deve ser levado a
sério urgentemente.“Não se trata de alguém que quer chamar atenção, mas
que precisa de ajuda. Vítimas de doenças como bipolaridade, depressão ou
que usam drogas e revelam problemas graves no comportamento devido à
dependência química precisam ser encaminhadas para tratamentos
rapidamente”, afirma.
Sandra Fernandes também frisa a
influência de questões sócio-econômicas ou sócio-culturais sobre esses
dados. Segundo a especialista em comportamento humano, diversos fatores
podem potencializar a vulnerabilidade emocional das pessoas,
desencadeando uma tendência suicida.”Esse tipo de comportamento é
multicausal. Não podemos atribuir o atentado contra a própria vida
apenas a depressão ou ao uso de substâncias ilícitas”, disse.
Além da perspectiva comportamental,
religiosos observam que esse tipo de situação extrema tem que ser
avaliado o componente espiritual. É o caso do pastor evangélico Inaldo
Camelo, para quem esses aspectos devem ser levados em consideração.
“Dentro da perspectiva espiritual, podemos apontar dois tipos desses
casos. Primeiro, os que são causados por uma possessão maligna, que é
quando dizemos que a pessoa estava endemoniada. Segundo, por uma
opressão externa, a morte de um ente querido, um divórcio ou até mesmo
uma situação de estresse são exemplos disso”, disse o pastor, ao
relacionar seu argumento com passagens bíblicas.
Segundo Inaldo Camelo, a morte de Judas é
um exemplo de suicídio por opressão maligna, enquanto o rei Saul não
suportou pressões externas e acabou tirando a própria vida.
Para o padre católico Alexandre Magno
Jardim, esse tipo de atitude evidencia uma fraqueza espiritual, mas que
não deve ser julgada ou condenada por ninguém. Ele também ressaltou a
importância das religiões no tratamento de pessoas depressivas ou que já
manifestaram vontade se se matar. “A Igreja enxerga essa pessoa com
muita misericórdia, afinal, é uma prova de desespero, de perda do
sentido da vida. A nós, religiosos, cabe o dever de orar por esses
nossos irmãos que não mais estão conosco, orar por suas almas”, disse o
responsável pela paróquia Nossa Senhora da Conceição, localizada no
bairro do Varadouro, dentro da Capital.
Além de acompanhamento médico, indicado
por especialistas, pessoas que apresentam tendências suicidas podem
procurar ajuda através do Centro de Valorização da Vida (CVV). A
entidade existe há mais de 50 anos e colabora prestando apoio àqueles
que têm depressão, bipolaridade ou doenças mentais que influenciam no
comportamento. O CVV atende na Paraíba pelo telefone gratuito 141, 24
horas por dia.
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