Segundo jornal, EUA monitoram milhões de dados de brasileiros e abriram base espiã em Brasília
O embaixador dos EUA no Brasil, Thomas Shannon, disse nesta segunda-feira que a série de reportagens do jornal O Globo sobre a espionagem americana no Brasil não reflete de maneira correta o programa de segurança do governo dos EUA.Reportagens do jornal O Globo afirmam que a Agência de Segurança Nacional dos EUA (NSA, na sigla em inglês), monitorou, na última década, milhões de telefonemas e correspondência eletrônica de pessoas residentes ou em trânsito no Brasil. Além disso, uma base de espionagem teria sido montada pelos americanos em Brasília para a coleta de comunicações globais via satétile interceptadas até ao menos 2002.
As informações foram reveladas pelo jornal a partir de documentos vazados por Edward Snowden , ex-técnico da CIA e ex-funcionário de uma prestadora de serviços da NSA. De acordo com o texto, o País aparece em destaque nos mapas da NSA como prioridade no tráfego de telefonia e dados, ao lado da China, Rússia, Irã e Paquistão.
Ao sair de um encontro com o ministro das Comunicações do Brasil, Paulo Bernardo, o embaixador afirmou que o governo americano está prestando todos os esclarecimentos solicitados pelo governo brasileiro.
Ele disse também que esteve no domingo com o secretário-geral do Ministério das Relações Exteriores, embaixador Eduardo dos Santos. Nesta segunra, além de Paulo Bernardo, está previsto que Shannon converse com o ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) da Presidência da República, general José Elito.
O ministro das Comunicações disse nesta segunda acreditar que a violação de dados de telefonemas e emails de brasileiros pelo governo americano tenha sido feita sem a participação das empresas do setor no país. ”Acho mais provável que tenha sido monitoramento via cabo submarino, satélite, que se faz de fora, porque ter um convênio para uma empresa entregar dados eu acho muito mais complicado, porque isso, claramente, é crime.”
Participação de empresas brasileiras
O ministro informou ter conversado com o diretor executivo do Sindicato Nacional das Empresas de Telefonia e de Serviço Móvel Celular e Pessoal (SindiTelebrasil), Eduardo Levy, que negou a participação das empresas no monitoramento de informações pelos EUA. No entanto, Bernardo não tem dúvidas de que dados de cidadãos brasileiros foram monitorados.
“Até o Parlamento Europeu foi monitorado . Você acha que nós não fomos? Agora, as circunstâncias em que isso se deu, a forma exata, a data, isso temos de verificar”, ressaltou.
Paulo Bernardo reuniu-se no início da tarde desta segunda com o presidente da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), João Rezende, e pediu que o órgão regulador verifique se existiu participação das empresas no fornecimento dos dados. Paulo Bernardo também pediu ao ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, que a Polícia Federal abra um inquérito para investigar o episódio.
Para o ministro, o episódio não prejudica as relações entre o Brasil e os EUA. “Somos países amigos, mas isso não elimina a necessidade de exigirmos explicações”, afirmou.
Paulo Bernardo disse que o caso reforça a necessidade de existir uma entidade multilateral para controle da internet no mundo todo. “Tem de ter uma mudança na governança da internet; ela não pode ser regida apenas por uma entidade privada americana, quando a gente sabe que ela é controlada pelo governo americano.”
Sessão extraordinária no Senado
A Comissão de Relações Exteriores (CRE) do Senado marcou para às 14h30 de terça-feira uma sessão extraordinária do colegiado para votar requerimentos a fim de chamar autoridades e cobrar explicações sobre as denúncias.
O presidente da comissão, senador Ricardo Ferraço (PMDB-ES), colocará em votação pedidos para ouvir, além de Shannon e Elito, os ministros da Defesa, Celso Amorim; das Relações Exteriores, Antonio Patriota; o chefe da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), Roberto Trezza; e Glenn Greenwald , o jornalista inglês radicado no Rio de Janeiro que recebeu os documentos secretos de Snowden.
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Diante da gravidade dos fatos, a aprovação dos requerimentos é dada como certa e Ferraço quer marcar ainda para esta semana uma audiência pública com autoridades envolvidas.
"Será uma oportunidade para sabermos em que dimensão o governo brasileiro está preparado para essa guerra cibernética", afirmou o presidente da comissão, que se considera "perplexo" com o que foi divulgado nos últimos dias.
Para o senador capixaba, a se confirmar as informações, os fatos revelam um "desdém" e uma "arrogância" sem precedentes do governo americano.
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