Roma, 6 mar (EFE).- A Rede de
Sobreviventes Abusados por Padres (SNAP, na siga em inglês) informou
nesta quarta-feira em Roma que 12 cardeais não poderão ser votados para
ser papa por não terem sido rigorosos o suficiente com os casos de
clérigos pedófilos, já que, segundo a organização, eles deram pouca
importância ao caso e rejeitaram um encontro com as vítimas.
A Snap convocou hoje a imprensa para
mostrar a lista do que chamou de ‘dúzia suja’, fato que coincidiu com a
realização das congregações gerais de cardeais, espécie de preparação do
conclave que elegerá o sucessor de Bento XVI.
Segundo a Snap, os cardeais que não
devem ser escolhidos para pontífice são: o mexicano Norberto Rivera
Carrera, o hondurenho Oscar Rodríguez Maradiaga; os americanos Timothy
M. Dolan (Nova York), Donald Wurel (Washington) e Sean O’Malley
(Boston), o argentino Leonardo Sandri; os italianos Angelo Scola (Milão)
e Tarcisio Bertone (Carmelengo), o australiano George Pell, o tcheco
Dominik Duka, o canadense Marc Ouellet e o ganês Peter Turkson.
De acordo a Snap esses cardeais, todos
eles eleitores e muitos deles considerados ‘papáveis’, ou seja, que
podem ser escolhidos como papa, não enfrentaram com suficiente rigor os
casos de abusos sexuais cometidos por clérigos contra menores.
O cardeal Sandri foi acusado de estar
muito ligado ao polêmico cardeal Sodano, ‘um defensor de Marcial
Maciel’, sacerdote mexicano fundador da Legião de Cristo que foi
castigado por Bento XVI por abusar de seminaristas e levar uma vida
tripla (teve filhos com mulheres diferentes e era usuário de drogas).
Sodano era decano do Colégio Cardinalício e foi Secretário de Estado
durante o pontificado de João Paulo II.
O hondurenho Maradiaga afirmou em uma
ocasião, se referindo aos casos de padres pedófilos, ‘que iria à prisão
com muito gosto, já que não era um policial para acusar seus
sacerdotes’, apontou a organização, que completou: ‘Já Marc Ouellet,
presidente da Pontifícia Comissão para a América Latina, afirmou que só
10% das acusações contra clérigos pedófilos eram verdadeiras’.
Além disso, a entidade acusou o cardeal
italiano Angelo Scola de ter minimizado tais casos e lembrou que, em
2010, em uma homília na Basílica de São Pedro, ele disse que se davam
‘em diferentes âmbitos e categorias diferentes de pessoa’.
O cardeal Dolan, por sua vez, foi
indiciado de planejar o pagamento de U$ 20 mil (aproximadamente R$ 39
mil) aos clérigos envolvidos em casos de pedofilia para que os mesmos
abandonassem a igreja. De acordo com SNAP, pelo menos 12 sacerdotes
receberam essa quantia.
Segundo os representantes da rede Snap,
Barbara Doris e David Clohessy, os escândalos de clérigos pedófilos que
vieram à tona são apenas a ‘ponta do iceberg’ e ainda deverão sair
muitos mais.
Os representantes também afirmaram que
os cardeais que estão preparando o conclave devem colocar essa ‘dúzia
suja’ sob pressão e perguntar, ‘sem temor’, para saber a verdade.
‘A maior parte merece um posto nessa
lista pelo que fizeram e outros pelo que disseram. Nós consideramos que
são os feitos e não as palavras que protegem as crianças, e quando os
bispos fazem comentários públicos causam mais dor às vítimas’,
informaram os representantes da Snap.
O porta-voz do vaticano, Federico
Lombardi, disse hoje que a posição da rede Snap ‘é conhecida há muito
tempo’ e, por isso, sustentou que não cabe a esta associação ‘dizer quem
deve entrar no conclave ou qualificar os cardeais que se reúnem’. EFE
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