País se prepara para mais um dia de confrontos nas ruas, enquanto o maior sindicato tunisiano convocou uma greve geral
Milhares de tunisianos se reuniram na capital do país, Túnis, nesta sexta-feira (8), para o funeral do líder opositor Chokri Belaid, assassinado na porta de sua casa, crime que suscitou um agravamento da crise política no país. Cidades em todo país se preparam para mais um dia de confrontos e protestos violentos nas ruas, enquanto o maior sindicado tunisiano convocou uma greve geral.Segundo os sindicados, o governo liderado pelo partido islâmico Ennahda é culpado pelo assassinato de Belaid, uma acusação negada pelos líderes da legenda. Belaid era um ferrenho crítico do gabinete liderado pelos islâmicos e defendia a realização de novas eleições na Tunísia, o primeiro país a se revoltar contra seu mandatário no contexto da Primavera Árabe há dois anos.
O premiê do país, Hamadi Jebali, tentou acalmar as tensões anunciando a dissolvição do governo e a nomeação de um corpo tecnocrata para conduzir o país para novas eleições, mas seu próprio partido se recusou a aceitar essa decisão .
De acordo com a rede britânica BBC, cerca de 3 mil se reuniram do lado de fora de um prédio no subúrbio de Djebel Jellod, onde o corpo de Belaid é velado. Centenas gritavam palavras de ordem contra o governo, acusando-o pela morte do opositor.
O caixão, então, foi levado em uma procissão ao cemitério de el-Jellaz. É esperado que centenas de milhares se reúnam nas ruas após as orações de sexta-feira e agentes da tropa de choque já estão na avenida Habib Bourguiba, onde geralmente ocorrem protestos no país.
Segundo a TV estatal, as universidades receberam ordens para suspender as atividades no sábado e no domingo, enquanto a França anunciou que fecharia suas escolas localizadas em Tunis. Também o aeroporto cancelou alguns voos. Esta é a primeira greve geral no país em 35 anos.
A morte de Belaid representou a gota d'água em uma crise política que já ganhava corpo na Tunísia há meses. O Ennahda, partido islâmico moderado que venceu as eleições no ano passado, é acusado de permitir que grupos fundamentalistas islâmicos imponham sua vontade e opiniões no governo.
O primeiro político assassinado na Tunísia desde a Primavera Árabe, em 2011, Belaid foi atingido por um tiro enquanto saía de sua casa para o trabalho na quarta-feira. O responsável pelos disparos fugiu de moto.
A morte de Belaid provocou em seguida protestos em frente ao Ministério do Interior em Túnis, onde os participantes da manifestação gritavam palavras de ordem contra o governo, pedindo a renúncia do primeiro-ministro e a realização de uma nova revolta.
No centro da capital, um policial foi morto durante o confronto entre agentes e manifestantes. Na quinta-feira, novos protestos tomaram conta de Túnis e de outras cidades do país, aos quais a polícia respondeu com bombas de gás lacrimogêneo. Entre os manifestantes estavam advogados e juízes que hoje entram no segundo dia de greve, em protesto ao assassinato.
Antes, quatro grupos da oposição, incluindo a Frente Popular, da qual Belaid fazia parte, anunciaram que estavam se retirando da Assembleia Constituinte. Belaid era um respeitado advogado de direitos humanos, e um opositor secular de esquerda do governo, que tomou o poder após a queda de Zine el-Abdine Ben Ali.
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