Aluna de ciências biológicas tentou vaga em cinco instituições. Ela termina o bacharelado em março e a licenciatura em julho.
A estudante de biologia Fernanda de Araújo Ferreira em um laboratório da Universidade de Brasília (Crédito: (Foto: Raquel Morais/G1))
"Você nunca sabe se vai dar certo até receber a confirmação. Eu não tinha certeza nenhuma. Tentei na cara e na coragem", revela. "Acompanhava fóruns na internet, via as notas e os comentários do pessoal e pensava em algumas horas que eu estava bem e em outras que isso nunca daria certo. Quando recebi a ligação, estava em um desses momentos de 'nunca vou ser aceita'. Até hoje ainda acordo em dúvida se aconteceu mesmo."
Você nunca sabe se vai dar certo até receber a confirmação. Eu não tinha certeza nenhuma. Tentei na cara e na coragem. (...) Quando recebi a ligação, estava em um desses momentos de 'nunca vou ser aceita'. Até hoje ainda acordo em dúvida se aconteceu mesmo."
Fernanda de Araújo Ferreira, estudante de graduação da UnB que foi aceita em doutorado em Harvard
A tentativa por uma vaga na instituição se deu por um motivo "simples", segundo a jovem de apenas 23 anos: Fernanda se diz “confortável” falando inglês e queria fazer pós-graduação nos Estados Unidos. Ela viveu no Canadá entre os 6 meses e os 5 anos, enquanto os pais faziam pós-doutorado. De volta ao Brasil, a garota estudou em uma escola americana até começar o curso na UnB.
Além do processo seletivo para Harvard, Fernanda tentou uma vaga em outras quatro instituições dos Estados Unidos. De Stanford e Mount Sinai ela já recebeu correspondência avisando que não foi aprovada. Em Yale e Columbia, a seleção ainda não acabou, mas a estudante diz ter certeza de que não vai ser chamada.
"A fase de entrevistas já começou e eu não fui convidada. É claro que eu gostaria de ter recebido telefonema de todas, porque poderia dizer que eu escolhi essa ou aquela. Seria legal. Mas como diz meu professor, basta uma. É o que deu. E, pensando bem, é até pecado dizer 'basta uma' para Harvard", diverte-se.
Antes de embarcar para o doutorado, Fernanda deve concluir o bacharelado em ciências biológicas em março e a licenciatura em julho. Paralelamente, ela continua com os dois projetos de pesquisa dos quais participa desde 2010, ambos voltados para o estudo do comportamento de um vírus que afeta vegetais.
No período em que ficar em Boston, a expectativa da jovem é trabalhar com vírus humanos, como os causadores da dengue e do ébola. Fernanda terá entre cinco e sete anos para concluir o curso e vai receber uma bolsa da universidade para se sustentar. Nos primeiros 18 meses, ela vai passar por três laboratórios diferentes para escolher em qual vai querer trabalhar.
Entre as dicas da garota – que não se considera "a mais estudiosa" – para conquistar uma vaga em um curso de pós-graduação fora do país, estão o domínio do idioma, a leitura de artigos científicos e das respectivas referências e o aproveitamento de recursos oferecidos pela internet.
"Você tem que tomar responsabilidade sobre a sua própria educação. Na UnB tem muita gente que reclama que não entende nada, que o professor não ensina direito. Mas a gente tem acesso a muita coisa por fora. É preciso aprender de uma forma independente, ler muita literatura a respeito, gostar de pesquisar e saber a língua", diz.
Processo seletivo
Fernanda cumpriu uma extensa lista de tarefas até 1º de dezembro de 2012 para participar dos testes para o doutorado. Além de enviar cartas de recomendação de três professores, ela teve que escrever um texto justificando a escolha pela instituição e passar na prova de proficiência em inglês (Toefl) e no Graduate Record Examinations (GRE), que avalia o conhecimento em matemática e em inglês.
Após essa fase, ela passou um final de semana de janeiro em Boston para ser entrevistada por professores do programa de virologia de Harvard. Foram seis encontros, cada um com pouco mais de 40 minutos de duração.
"Você sempre fica nervosa nesses momentos, mas fiquei feliz porque todas as minhas entrevistas ultrapassaram o tempo, que é de 30 a 40 minutos. Isso te tranquiliza, porque no mínimo você pensa que eles estão gostando de falar com você", conta. "A melhor dica que recebi sobre isso é de que a gente tem que pensar que estamos sendo entrevistados, mas também estamos entrevistando. Tudo bem, eles publicaram na ‘Science’ e na ‘Nature’ [publicações científicas], mas eles estão tentando te convencer a entrar no laboratório deles."
Competência
Para o coordenador do Instituto de Ciências Biológicas da UnB, Jader Soares Marinho, a conquista da estudante revela que ela tem o perfil adequado para pesquisa.
"É uma disputa que poucas pessoas tentam, porque sempre julgam que é muito complicado, muito difícil. Só de tentar ela demonstrou uma qualidade muito importante: agressividade, no bom sentido, de perseguir objetivos. Isso é muito importante. Muito mais que uma inteligência superior, um pesquisador precisa saber perseverar, correr atrás do que quer", disse.
É uma disputa que poucas pessoas tentam, porque sempre julgam que é muito complicado, muito difícil. (...) Muito mais que uma inteligência superior, um pesquisador precisa saber perseverar, correr atrás do que quer"
Jader Soares Marinho, coordenador do Instituto de Ciências Biológicas da UnB
Marinho afirma que a universidade dá o suporte acadêmico necessário para que os alunos façam pós-graduação em instituições prestigiadas de outros países. "A gente manda os nossos bons alunos para os melhores destinos aí em termos de formação. O Brasil é capaz disso, tanto de providenciar um bom nível de pós-graduação aqui quanto fora."
Publicada nessa quarta-feira (6), a nova edição do Webometrics Ranking of World Universities colocou a UnB como a quarta melhor instituição de ensino superior do país, atrás apenas da Universidade de São Paulo (USP), da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).
O Webometrics é um sistema de ranqueamento de universidades de todo o mundo feito a partir da exposição e do impacto do conteúdo das páginas das instituições na web. Atualmente, 12 mil instituições são avaliadas todos os anos.
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Educação