Diretor do DHPP pedirá à Justiça a prisão preventiva dos policiais detidos. Cinegrafista gravou ação; para defesa de PM pode ter havido tiro acidental.
A investigação da Polícia Civil tem provas de que policiais militares tiveram intenção de matar do servente Paulo Batista do Nascimento, segundo o delegado Jorge Carrasco, diretor do Departamento de Homicídios e de Proteção à Pessoa (DHPP).
O crime foi cometido em Campo Limpo, na Zona Sul de São Paulo, na manhã de sábado (10). Parte da ação da PM foi filmada por um morador da região. Os cinco policiais suspeitos estão presos administrativamente desde domingo (11) no prédio da Corregedoria da PM.
Ao registrar a ocorrência, os policiais alegaram que o homem havia trocado tiros com uma equipe da PM e que seu corpo havia sido encontrado posteriormente numa viela. Mas um cinegrafista amador registrou os policiais detendo o servente numa casa e o levando para o carro da corporação. Neste momento, o vídeo registra o barulho de um disparo.
Em entrevista nesta terça-feira (13) ao Bom Dia Brasil, Carrasco disse que os fatos contradizem a versão dos policiais. “Nós temos um inquérito aqui que se iniciou como uma resistência [à prisão seguida de morte], e, posteriormente, dadas as provas já colhidas nos autos, depreendeu-se que se trata um homicídio doloso [quando há intenção de matar] contra a vida. Ou seja: homicídio", disse Carrasco.
"Os autores são essa guarnição que participou, que todos os senhores tomaram conhecimento daquela imagem. Eles foram ouvidos, um foi ouvido ontem [na segunda-feira] no DHPP, já nos declinou como a história aconteceu. Hoje [terça-feira] devemos ouvir os outros componentes daquela guarnição e, posteriormente, será pedida a prisão preventiva de todos”, disse o diretor do DHPP.
Pedido de prisão
Segundo Carrasco, será pedida a prisão preventiva dos suspeitos. “Porque as provas que estão nos autos já são inconteste de que houve um crime doloso contra a vida, homicídio”, argumentou o delegado Jorge Carrasco. “Todos os casos de resistência são investigados pelo DHPP e já tivemos casos em que houve uma simulação de resistência e os seus autores foram penalizados perante a Justiça”, comentou.
Os cinco PMs envolvidos na ação que resultou na morte de Paulo Nascimento são: o tenente Halstons Kay Yin Chen e os soldados Francisco Anderson Henrique, Marcelo de Oliveira Silva, Jailson Pimentel de Almeida e Diógenes Marcelino de Melo. A Corregedoria da PM também deverá pedir à Justiça Militar a prisão temporária dos suspeitos.
O que diz a defesa
O advogado José Miguel da Silva Júnior, que defende o tenente Halstons Chen, afirmou nesta segunda-feira (12) que o servente já estava ferido quando seu cliente chegou ao local. Em seguida, segundo o defensor do oficial, o detido tentou retirar a arma de seu cliente durante a revista no caminho até o hospital e houve um disparo.
Para a defesa, a imagem não é clara quanto ao disparo. “Esse disparo, que ainda se carece de uma pericia, carece de uma análise mais profunda para ver o que realmente aconteceu, porque a imagem não é clara. (...) Ele pode simplesmente ter entrado em luta corporal. Não tive acesso ainda ao depoimento dos outros policiais, mas pode ter havido uma luta corporal e ter sido um disparo acidental. Então eu entendo que é prematuro ainda se acusar qualquer pessoa. Principalmente um oficial de policia que está colaborando com as investigações”, disse o advogado José da Silva Júnior.
A reportagem não conseguiu localizar os outros advogados dos demais policiais militares detidos. Quatro PMs ainda deverão prestar depoimento nesta semana no DHPP.
Governo lamenta morte
Em nota, a Polícia Militar informou, após a divulgação das imagens do caso, que o comandante geral "considera lamentável a ocorrência, que não reflete a conduta da maioria dos policiais de São Paulo" e que "estes PMs serão processados, devendo ser demitidos e expulsos da corporação."
"Não há nenhuma tolerância agora nós temos 130 mil policiais então é preciso sempre verificar que são ações excepcionais para isso a polícia tem a maior corregedoria do país e nós ainda determinamos que todo caso de confronto seguido de morte seja acompanhado pelo DHPP, que é o Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa", disse o governador Geraldo Alckmin (PSDB) após a divulgação do caso.
O governador chegou a classificar a ação dos PMs como ‘execução’ e ‘intolerável’. “Nós tivemos um caso de execução de um preso por parte de um PM [policial militar] e isso é intolerável. A Polícia Militar já prendeu toda a equipe. Poucas horas depois da descoberta do fato, cinco policiais foram presos e responderão a processo. Aqueles que forem responsabilizados, serão expulsos da polícia. Não há nenhuma tolerância.", afirmou Alckmin, na segunda.
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