Seis policiais são indiciados em caso de morte por espancamento na PB


Policiais foram indiciados por tortura seguida de morte.
Laudo apontou indícios de agressão e cocaína no sangue da vítima.


Médico apresentou resultados dos exames e laudo final na manhã desta sexta-feira (Foto: Rafael Melo/G1)Médico apresentou resultados dos exames e laudo
final na manhã desta sexta (Foto: Rafael Melo/G1)
A delegada de Homicídios de Campina Grande, Cassadra Duarte, divulgou na manhã desta sexta-feira (14) em entrevista coletiva a conclusão do inquérito sobre o caso de Tiago Moreira, jovem que morreu supostamente espancado por policiais há mais de um mês na cidade. Seis policiais militares foram idiciados por tortura seguida de morte e o inquérito será encaminhado ainda nesta sexta-feira para o Ministério Público.
A delegada explicou que o indiciamento teve base nos depoimentos das testemunhas e no resultado dos exames toxicológico e anatomopatológico realizados pelo Instituto de Polícia Científica de João Pessoa. O laudo final emitido pelo IPC foi entregue à delegada esta semana e apontou que o técnico em monitoramento eletrônico morreu por asfixia por sufocação indireta por compressão torácica e intoxicação exógena.
A delegada disse que os próprios moradores tinham ajudado os dois policiais que estavam de folga a imobilizar Tiago, que estaria supostamente descontrolado, entregando cordas para amarrá-lo. Porém, quando os outros PMs chegaram e agrediram o rapaz, a população tentou impedir a ação. Ao todo, 18 policiais teriam participado da ação e foram arroladas no inquérito, mas a delegada entendeu que apenas seis agrediram a vítima e, entre eles, o dono da casa, e o outro que estava de folga. Os PMs também foram agredidos, de acordo com um exame de corpo de delito.De acordo com o inquérito, Tiago Moreira teria invadido a casa de um policial militar e o agrediu. O policial teria contido o rapaz com a ajuda de outro PM que também estava de folga e, em seguida, chamado reforço policial. A delegada disse que, segundo os depoimentos das testemunhas, no momento em que os outros policiais que estavam em serviço chegaram, eles teriam passado a agredir o jovem, mesmo com ele estando amarrado.
O inquérito descreve que o fato teria se iniciado às 12h do dia 5 de agosto e que a ação da polícia durou em média uma hora. "Após a chegada do reforço os policiais levaram em média 50 minutos na ocorrência e em três minutos chegaram ao hospital para prestar o socorro a vítima", disse a delegada. Na época do crime, um funcionário do hospital disse que os policiais o teriam forçado a colocar do atestado de óbito que a vítima chegou ao local ainda com vida. "Na verdade, o que houve foi que o médico não sabia que era preciso assinar um documento para liberar o corpo para o IML e um major o cobrou a assinatura desse documento. Ele não entendeu e informou errado", disse a delegada.
O laudo
De acordo com o gerente operacional dos Institutos de Medicina Legal (IML) da Paraíba, o médico Flávio Fabres, o laudo comprova que a vítima sofreu algum tipo de força contundente na região do tórax, que teria desencadeado um processo de asfixia. Segundo ele, essa ação não seria suficiente para tirar a vida do rapaz, mas o uso de cocaína atrelado a essa compressão acabou resultando na asfixia. Ainda segundo o médico, os exames também apontaram que o jovem teve um pequeno infarto e que teria ingerido álcool.
Ele explicou que a vítima não teria como realizar essa compressão na altura do pescoço contra si mesmo, mas que uma força externa teria agido. "Não sei o que pode ter sido usado, não tenho como precisar. Se foi o piso do coturno, se foi um cacetete. A única certeza é que houve algum tipo de agressão, que pode ou não ser caracterizado como tortura, mas que não seria capaz de matar um cidadão não usuário de droga. O uso da cocaína, que ficou comprovado através do exame, contribuiu para o processo de asfixia provocado inicialmente pelas lesões da agressão", disse.
O chefe de disciplina da Polícia Militar do estado, coronel Francisco Castro, disse que acredita na inocência dos policiais até que eles sejam condenados. "O caso não está encerrado, está apenas começando. Quem merece tem que pagar", disse. Segundo ele, um Inquérito Policial Militar também está sendo realizado paralelamente, já que se tratam de militares. O MP pode pedir uma reconstituição do crime já que foi recomendada pelo IPC.
O crime
Tiago Moreira, de 27 anos de idade, morreu no dia 5 de agosto deste ano. A esposa da vítima, Alessandra Alves, disse que Tiago teve uma crise de abstinência de drogas e acabou invadindo a casa de um policial. A casa do PM fica a menos de 30 metros da casa da vítima. Lá, segundo Alessandra, ele teria sido espancado e assassinado por doze policiais. De acordo com o comandante do 2º Batalhão da Polícia Militar, tenente coronel Souza Neto, o policial e a esposa dele foram agredidos por Tiago e chamaram reforço policial para conter o rapaz. Em seguida, policiais levaram o corpo da vítima até o Hospital Doutor Edgley e deixaram na porta, segundo o próprio hospital.

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