Segundo o Ministério da Educação, a cada 20 crianças de até 8 anos, três não sabem ler ou escrever. Situação é mais grave nas regiões Norte e Nordeste
Calegari explica que o programa não lançará mão de métodos revolucionários de Alfabetização. “A metodologia será totalmente vinculada à prática dos Professores alfabetizadores na sala de aula. É menos teoria e mais prática.
O próprio currículo, na avaliação dela, também é um empecilho para a plena Alfabetização. “Saber decodificar as letras é uma coisa. Mas a Alfabetização se estende um pouco, até o momento em que a criança sabe não só ler, mas entender o que leu, e também escrever, o que é muito mais difícil. Acontece que a Escola, os currículos, as gramáticas querem logo que o menino aprenda classes gramaticais, depois sintaxe. E quando o Aluno se vê no Ensino médio, precisando escrever um parágrafo para fazer o Programa de Avaliação Seriada (PAS), por exemplo, percebe que não sabe escrever”, diz a Professora. Mas não é só a experiência dentro de classe que pesa para a qualidade do Ensino, completa, a vivência fora dela também é importante. “A criança que convive com pais instruídos, que leem jornal, terá desempenho melhor.”
Ambiente
As condições de vida e de acesso à Escola são outro ponto fora do alcance dos Professores que podem ajudar ou atrapalhar na Alfabetização. “O Norte e Nordeste são locais historicamente mais defasados em termos educacionais, onde há os mais altos índices de Analfabetos, além de dificuldades de toda ordem”, ressalta Anna Cristina. Ela cita Escolas distantes de casa e ambiente doméstico desestruturado, entre outros pontos, como fatores que podem levar a problemas na Escola. “É um conjunto de fatores que leva aos índices elevados de Analfabetos funcionais no Brasil, ou seja, aqueles que reconhecem as letras e palavras, mas não conseguem compreender.”
Para Maria de Salete Silva, coordenadora do Programa de Educação do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), chegar à metade da primeira etapa do Ensino fundamental alfabetizado é o mínimo que se pode esperar de um sistema educacional. “Essa questão da idade já foi muito discutida. Por que oito, se as crianças começam a serem alfabetizadas antes, com seis? Acredito que isso é o que menos importa. O que queremos é toda criança que termina o 3º ano, considerada a etapa final do ciclo de Alfabetização, plenamente alfabetizadas. Não é saber desenhar o próprio nome, mas, sim, escrever, ler e interpretar”, destaca Salete.
O alerta faz sentido se considerados os últimos dados do Indicador de Alfabetismo Funcional (Inaf), criado em 2001 pelo Instituto Paulo Montenegro e mensurado pelo Ibope. Os números mais recentes, divulgados em julho, mostraram que somente 3% da população adulta brasileira (15 a 64 anos) que fez até a 4ª série (atual 5º ano) é plenamente alfabetizada. A maior parte, 44%, tem Alfabetização rudimentar, ou seja, localizam uma informação explícita em textos curtos e familiares, leem e escrevem números usuais e realizam operações simples, como manusear dinheiro para o pagamento de pequenas quantias. Quando a análise envolve quem terminou o Ensino fundamental, o Inaf revela que um em cada quatro brasileiros ainda estão classificados no nível rudimentar.
Categorias
O Inaf define quatro níveis de alfabetismo em duas categorias. Na de Analfabetos funcionais, há os Analfabetos — que não conseguem ler palavras e frases, embora uma parcela saiba ler números familiares— e os alfabetizados em nível rudimentar, com pouca desenvoltura. Nos funcionalmente alfabetizados, existem os de nível básico — que leem e compreendem textos de média extensão, números na casa dos milhões, resolvem problemas envolvendo uma sequência simples de operações e têm noção de proporcionalidade — e os de nível pleno. Esses últimos compreendem e interpretam e analisam textos mais longos.
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