Poeta maior da Paraíba



Pedro Nunes Filho presta homenagem ao poeta Augusto dos Anjos

POETA MAIOR DA PARAÍBA DO NORTE

Augusto de Carvalho Rodrigues dos Anjos era seu nome. Descendia paternalmente de família pernambucana; do lado materno, de senhores de engenho instalados na várzea do Rio Paraíba.

Seu pai, Alexandre, e Córdula, sua mãe, trouxeram à luz do mundo, dia 20 de abril de 1884, na casa-grande do Engenho Pau d´Arco, poeta paraibano talentoso, que figura entre os três mais lidos da língua portuguesa.

Augusto dos Anjos estudou as primeiras letras com o pai, homem culto e possuidor de vasta biblioteca numa das salas da casa-grande do Engenho Pau d´Arco. Naquela época, pais e filhos liam e se ilustravam, mesmo antes de chegarem às faculdades. Ao prestar exames para ingressar no Lyceu Paraibano, sua inteligência e vasta cultura causaram admiração aos mestres-examinadores. Graduou-se na Faculdade de Direito do Recife, em 1902. Culto, devotado à Filosofia e sem vocação para as letras jurídicas, dedicou-se ao magistério.

Em 4 de junho de 1910, aos 26 anos de idade, Augusto casou-se com Dona Ester, na igreja de Nossa Senhora da Conceição que ficava entre o Palácio do Governo e a Faculdade de Direito, na capital paraibana.

Desgostoso com decisão do Presidente do Estado, João Machado, que não o efetivou em cátedra que pleiteava no Lyceu Paraibano, possuidor que era de plenas condições intelectuais, foi embora para o Rio de Janeiro, onde passou a lecionar no prestigiado Colégio Pedro II. Depois se mudou para Leopoldina, Minas Gerais. Tinha dois  filhos, Glória e Guilherme Augusto.

Faleceu em 1914, aos 30 anos de idade, em Leopoldina, em cujo cemitério há uma lápide branca com os dizeres: AUGUSTO DOS ANJOS, poeta paraibano.

Difícil tarefa é essa de querer conhecer a alma dos nossos semelhantes, quando, na verdade, não conhecemos sequer a nossa. Por isso, permitam-me parar diante do Templo, sem transpor suas portas, numa atitude de respeito à sua grandeza e de reconhecimento da minha pequenez. Em Augusto dos Anjos não há que procurar o autor fora de sua obra, isto é, o eu fora do Eu – disse em tom magistral o historiador Horácio de Almeida.

Para entender melhor a morbidez poética de Augusto dos Anjos, importa ressaltar que sua mãe, Dona Córdula, durante a fase de gestação, perdeu um irmão que estudava Medicina, o que a deixou completamente transtornada, passando toda a carga de dor, sofrimento e angústia para a criança que carregava em seu ventre. Talvez por isso, a obra de Augusto dos Anjos fala tanto em morte, angústia cósmica, decomposições de moléculas e amargo pessimismo, tudo isso cantado em versos com métrica rígida, cadência musical perfeita, rimas preciosas, utilizando vocabulário estranho à linguagem comum.

Como o meu propósito aqui não é fazer análise literária, até porque não domino esta área, vale citar parte de um soneto seu que termina assim:

Já o verme - este operário das ruínas,
Que o sangue podre das carnificinas
Come e à vida em geral declara guerra,

Anda a espreitar meus olhos para roê-los,
E há de deixar-me apenas os cabelos,
Na frialdade inorgânica da terra!

Agraciado com a Medalha Augusto dos Anjos pela Assembleia Legislativa da Paraíba em 2011, aproveito este espaço para lembrar os CEM ANOS de lançamento de seu único livro EU. Ao mesmo tempo em que rendo homenagem a este paraibano, cuja memória precisa ser perenizada, porque sua obra poética foi erigida com tanta substância que não envelhece com o passar dos anos, o que mostra a profundidade intelectual e grandeza de um raro talento que se foi precocemente.

*É advogado e sócio do IAHGP.
pnunesfilho@yahoo.com.br

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