Com investidores ou grandes empresas no comando, seis clubes chegam à Champions sonhando em combater os tradicionais Barcelona, Real e United
Mais recentemente, magnatas entraram na onda do sucesso e transfomaram outros clubes. Campeão inglês e com muitas estrelas em seu elenco, o Manchester City é atualmente um modelo a ser seguido pelo PSG, Málaga - que não vingou como o esperado - e, por último, o Zenit. Além de muito dinheiro, o time de São Petersburgo também é movido a gás - o trocadilho faz-se necessário por conta da Gazprom, líder mundial no segmento e patrocinadora do clube russo. Num intervalo de horas às vésperas do fechamento do mercado, os milhões possibilitaram à diretoria anunciar o brasileiro Hulk e o belga Witsel, do futebol português e com mercado em outros centros.
Uma nova rota para os craques
- Não há possibilidade de ele vir para a Itália. Um jogador como ele recebe um tipo de salário não compatível com a Itália. Cristiano Ronaldo vir do Real Madrid é somente um sonho. É realmente impossível - disse o dirigente.
Se Milan, Inter, Arsenal e Liverpool, por exemplo, adotam a política do bom, bonito e barato, outros como Real Madrid e Barcelona costumam abrir mais os cofres. Ainda assim, não ousam gastar o mesmo dos novos ricos. Rival do Manchester City na primeira fase da Liga dos Campeões, o treinador José Mourinho, do clube merengue, declarou que o investimento dos Citizens faz dos ingleses uma máquina para ganhar a competição continental.
- O Manchester City é poderoso pelo dinheiro e pelos jogadores de alto nível mundial. É uma equipe feita para ganhar a Champions, fabricada com essa intenção. O investimento que tem sido feito nos últimos três anos tem como objetivo erguer o troféu da Liga dos Campeões - afirmou o português.
Chelsea e City: Inglaterra em alta
É evidente que todos esses times têm lá suas diferenças. Atual campeão da Liga dos Campeões, o Chelsea, por exemplo, é pioneiro neste tipo de investimento. Temido desde que o magnata russo Roman Abramovich assumiu o controle financeiro em 2003, o clube londrino viveu uma nova era em sua história, com títulos da Premier League (três dos quatro conquistados em toda a história: 2005, 2006 e 2010), Copa da Inglaterra, Copa da Liga, além da joia da coroa, a última Champions.
Nomes como Didier Drogba, John Terry, Frank Lampard e Petr Cech representam toda essa geração vencedora, que colocou o Chelsea no grupo do primeiro escalão do futebol inglês e europeu. Times tradicionais como Liverpool e Arsenal, por exemplo, perderam espaço para acomodar esse novo gigante neste seleto grupo.
Para se manter como potência, no entanto, novos reforços precisavam chegar para repor perdas como a de Drogba, Essien e Raul Meireles, que deixaram Stamford Bridge após a recente conquista da Champions. Vieram os meias Marin, ex-Werder Bremen, Oscar, ex-Internacional, e Eden Hazard, ex-Lille. Juntos, os três custaram cerca de R$ 200 milhões. No fim da janela, o lateral César Azpilicueta e o atacante Victor Moses também vestiram a camisa azul por R$ 55 milhões. Duas temporadas atrás, as contratações foram por jogadores que atualmente têm presença certa entre os 11 escolhidos por Roberto Di Matteo: Fernando Torres, David Luiz e Ramires. Engana-se, porém, quem acha que a única razão para escolher um time como o Chelsea é de ordem financeira.
- O que fez realmente a diferença para ter fechado com o clube foi saber que eu estava indo para um dos maiores clubes do futebol mundial da atualidade, capaz de me dar condições de chegar onde cheguei com o título da Liga dos Campeões. Acho que a maioria dos jogadores tem vontade de jogar pelo Chelsea pelo que o clube representa hoje. A estrutura aqui é fantástica em todos os sentidos. Morar em Londres também é algo maravilhoso. Fui muito feliz em todos os clubes que passei e aqui não está sendo diferente - disse Ramires.
Estrutura essa que o outro novo rico do futebol inglês tem buscado. Com uma história similar à do Chelsea, o Manchester City, campeão inglês na última temporada após tirar jogador de todos os lados, planeja erguer o centro de treinamento mais moderno do mundo - e graças ao dinheiro do sheik Mansour bin Zayed Nahyan. Recentemente, o clube divulgou que um complexo com orçamento girando em torno de 100 milhões de libras (R$ 327,6 milhões). Ele deverá estar pronto em cerca de dois anos, muito possivelmente com novos troféus para a luxuosa sala com as conquistas dentro de campo.
Hulk coloca Zenit em novo patamar
A brincadeira de investir se espalhou pelo Velho Continente. Há alguns anos, destaques trocam clubes brasileiros pelo Shakhtar Donetsk, por exemplo. Os ucranianos se consolidaram como uma força ao longo da última década e, quando se fala em competições locais, são protagonistas. Desde o início da década, foram nada menos que sete conquistas nacionais: 2002, 2005, 2006, 2008, 2010, 2011, 2012 - todos os títulos ucranianos da história do clube. Sem esquecer da Copa da Uefa, atual Liga Europa, em 2009.
Seguindo o exemplo dos vizinhos ucranianos, o futebol russo entrou nessa era de investimentos milionários. Sede da Copa do Mundo de 2018, o país é a casa do Zenit, espécie de “caçula” dos novos ricos. O clube chamou a atenção ao desembolsar R$ 243 milhões no final da janela de transferências ao contratar o atacante brasileiro Hulk, ex-Porto, e o meia belga Axel Witsel, ex-Benfica. Os rivais olham para essa nova potência com admiração.
- Cheguei tem muito pouco tempo para falar sobre isso. Mas o que já reparei é que as equipes são bastante respeitadas. Principalmente pelos jogadores que possuem no elenco. Uma vez ou outra aparece uma piada sobre valores fora da realidade e contratações fora do comum, mas só isso que reparei - disse o volante Romulo, da seleção brasileira, que defende o Spartak Moscou, referindo-se também ao Anzhi, de Samuel Eto'o, que disputa a Liga Europa.
- O Zenit tem uma equipe muito forte. É um time que vai brigar sempre na frente. Com a chegada do Hulk fica mais forte e o campeonato mais valorizado – completou Rafael Carioca, companheiro de Romulo no Spartak.
Jogo sujo longe dos gramados
Ao contrário do que se supõe, no entanto, o Zenit não conta com a personificação de um magnata atrás do gabinete. O clube pertence desde 2005 à Gazprom, empresa líder em extração de gás natural em todo o planeta e que também patrocina o Schalke 04, da Alemanha, e, pasmem, assinou um contrato de três temporadas com a... Uefa.
A ironia abre caminho para uma longa discussão: funcionará na prática o Fair Play Financeiro, medida criada pela entidade com a intenção de regular os gastos excessivos mundo afora? Ou os clubes - principalmente os "novos milionários" - conseguirão driblar da Uefa como fazem em campo os seus melhores jogadores contratados a peso de ouro?
Ao contrário do que se supõe, no entanto, o Zenit não conta com a personificação de um magnata atrás do gabinete. O clube pertence desde 2005 à Gazprom, empresa líder em extração de gás natural em todo o planeta e que também patrocina o Schalke 04, da Alemanha, e, pasmem, assinou um contrato de três temporadas com a... Uefa.
A ironia abre caminho para uma longa discussão: funcionará na prática o Fair Play Financeiro, medida criada pela entidade com a intenção de regular os gastos excessivos mundo afora? Ou os clubes - principalmente os "novos milionários" - conseguirão driblar da Uefa como fazem em campo os seus melhores jogadores contratados a peso de ouro?
- O Fair Play já foi burlado por alguns clubes. É a saída para todos os problemas, inclusive no Brasil. Tanto Manchester City quanto o Chelsea estariam em desacordo pelos déficits, pois os seus donos fazem o que chamamos de soft-loan (empréstimo suave numa tradução literal). O clube está endividado e o magnata vai lá e injeta 200, 300 milhões para calibrar as finanças. Demonstra fortaleza que não tem operacionalmente, mas tem um cara bilionário para ajudar. O objetivo dele não é ter lucro, e sim transformar clubes pequenos/médios em gigantes. O United, Barcelona e Real Madrid também gastam muito, mas têm um modelo de negócio mais equilibrado, a conta fica perto de fechar. E em outros casos é completamente deturpado. A Uefa faz um trabalho fantástico, mas verdade seja dita: eles vão conseguir driblar. O saco de dinheiro não tem fundo - declarou Amir Somoggi, consultor de marketing e gestor esportivo.
Para retratar o assunto na realidade brasileira, Somoggi usa um exemplo imaginário ao citar o Botafogo, clube de coração do bilionário Eike Batista, como um hipotético modelo de "novo rico".
- Imagine se o Eike Batista resolve investir no Botafogo e contrata Messi, Cristiano Ronaldo e Neymar. O que seriam R$ 500 milhões para ele, por exemplo? Nada. Aí o Botafogo é campeão brasileiro, do mundo, se globaliza e vai faturar. Mas nunca vai voltar esse dinheiro para o investidor. É o caso do Chelsea, City, PSG, Zenit... A Uefa percebeu e resolveu criar o Fair Play Financeiro - encerrou.
PSG e Málaga: antíteses do Qatar
Na mira da entidade, o Paris Saint-Germain tornou-se uma potência em menos de dois anos. Com o poderio financeiro do sheik Tamin Bin Hamad Al Thani, do Qatar, reforçou-se ao ponto de ser considerado um dos favoritos ao título da Liga dos Campeões - apesar de ainda estar num patamar abaixo, teoricamente, ao de Barcelona e Real Madrid, por exemplo. Estrelas do Milan, Zlatan Ibrahimovic e Thiago Silva aceitaram sem maiores problemas trocar a Itália pela França. O mesmo caminho fez o atacante Ezequiel Lavezzi, ex-Napoli, e o meia Marco Verratti, promessa do Pescara. Ainda irá se juntar à turma em janeiro o brasileiro Lucas, do São Paulo.
Também de "origem" qatari, o Málaga é o exemplo econômico mal sucedido dentre os emergentes. Após dois anos desde que comprou o clube, o sheik Abdullah Bin Nassser Al-Thani viu-se insatisfeito com o retorno e resolveu colocá-lo à venda. Os investimentos levaram aos espanhóis grandes jogadores como Ruud van Nistelrooy e Santiago Cazorla, além da inédita vaga na Liga dos Campeões. Ao mesmo tempo, a notícia não caiu bem para o time, que se desfez de alguns dos seus destaques. Atualmente, reforços de nome só por baixo custo, casos dos atacantes Javier Saviola e Roque Santa Cruz.
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