Morre aos 102 anos o pai de Afranio Melo.

Pai do ex-presidente do TRT, desembargador Afranio Melo, faleceu na madrugada desta terça-feira.

Morreu na madrugada desta terça-feira em João Pessoa, aos 102 anos, o agente fiscal aposentado Antônio Pereira de Melo, pai do ex-presidente do Tribunal do Trabalho da Paraíba, desembargador Afranio Melo e de Antônio de Pádua. O corpo está no velório Morada da Paz, em Jaguaribe, próximo ao Instituto Dom Ulrico, e será sepultado às 16h no Cemitério Senhor da Boa Sentença.
Embora não tenha disputado nenhum mandato eletivo, teve participação ativa na política paraibana desde o ano de 1930. Manteve sólida amizade com Plínio Lemos, José Américo de Almeida e Pedro Gondim, de quem foi auxiliar no Governo do Estado.
Assumiu o cargo de agente fiscal no governo do ex-presidente da Província, João Pessoa, depois de aprovado em concurso público.
Dizia sempre, com carinho, que a amizade com Pedro Gondim permaneceu até o fim da vida do ex-governador. Os dois se falavam por telefone praticamente todos os dias. Para Antônio Melo, era uma amizade extrema, como nunca ninguém teve na vida, de um adivinhar o pensamento do outro.
Quando completou 100 anos, Antônio Melo concedeu uma longa entrevista, publicada em meios de comunicação do estado. Abaixo, trechos da entrevista:
O segredo para chegar aos 100 anos?
A resposta era sempre macia como um afago em um neto, um bisneto, um tataraneto. No caso de seu Melo, são 24, sendo dez netos, onze bisnetos e três tataranetos. “A dedicação e o carinho deles são um dos segredos”, disse.
Afirmou que sempre levou uma vida comum. “É a formação orgânica de cada um. Há tempos tomo apenas um cálice de vinho antes das refeições e, quando jovem, em Areia, tomava sempre uma pinga do Brejo. Muito pouco, somente um aperitivo, nada de me embriagar”.
O olhar sempre ganhava brilho quando falava dos filhos. São dois, Antônio e Afrânio. Afrânio que é o desembargador do TRT, ex-presidente da Corte e da OAB-PB por dois mandatos. “O meu filho, Antônio, está aposentado e sempre está por aqui, para me ver. Afrânio representa tudo para mim. O que eu quero dele, obtenho”, disse na na entrevista.
A cumplicidade com Afranio
Antônio Melo era funcionário da Fazenda e estava em uma lista para ser promovido. O governador era José Américo de Almeida, seu amigo, e a lista de promoção foi divulgada e não constava o nome dele. Conta que chegou em casa lamentando a situação. Estava decepcionado. Afrânio Melo tinha dez anos e perguntou: “Papai, é esse homem que está causando toda essa raiva no senhor”? Apontou para uma fotografia de José Américo emoldurada na parede da sala. Com a resposta afirmativa do pai, subiu em uma cadeira, pegou a fotografia e quebrou. Seu Melo acenou para a esposa, Euzíria, para não dizer nada. Era, naquele momento, um ato de solidariedade imediata, do filho para com o pai.
“Disse que aquele ato iria contar muito para a vida adulta dele. E foi o que aconteceu. Hoje é um juiz respeitado, justo, solidário e amigo. É um orgulho ver como ele tem se destacado com dignidade ao longo de sua vida profissional. Além de tudo é casado com Zélia, uma mulher amável, determinada, a filha que eu não tive. Fico lisonjeado com o carinho que ela tem por mim e o zelo comigo e com minha saúde. É o meu anjo da guarda”.
Quando vai falar da esposa, Euzíria, o ritmo das palavra, das frases, muda. É lento, permeado de saudades. Foi casado por sessenta anos em um convívio que ele relata como de completa harmonia. “Era incrível, o que eu queria, ela queria. Era uma mulher honesta, conveniente e cordata. Era, também, muito bonita”.
Uma infância livre, de braços nus e peito aberto
Seu Antônio Melo nasceu no município de Areia no dia 4 de março de 1910. Com a mãe, Antônia Enedina, conviveu muito pouco. Ela morreu quando seu Antônio tinha apenas 2 anos e 7 meses.
No Engenho Olho D’água, citando o escritor Cassimiro de Abreu, disse que viveu intensamente uma infância, livre, “de braços nus e peito aberto”. E o pai alimentava esse amor pelo engenho. Não cobrava horários quando o menino, à cavalo, rondava pelo sítio. Uma saudade que acompanha seu Melo até hoje. “O engenho era, para mim, o paraíso aqui na terra. Guardo lembranças de minha liberdade, de montar a cavalo, dos banhos no açude e do convívio amigo com os trabalhadores do meu pai”.
Também em Areia construiu uma amizade de vida inteira: Bento Jardelino. Lembranças de frequentar os bailes em toda a região, sempre a cavalo. Jardelino morreu há poucos meses, aos 97 anos.

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