Histórias do Cariri .




Historiador relata fatos políticos que envolveram famílias tradicionais do Cariri


O historiador mestrando pela Universidade Federal da Paraíba, campus de João Pessoa, Márcio Macêdo, passa a colaborar a partir desta semana com o Portal VITRINE DO CARIRI, relatando fatos históricos da região, principalmente os que envolveram as famílias tradicionais da região.

Confiram abaixo o primeiro artigo de Márcio Macêdo:


O Tiroteio de São José dos Cordeiros em 1935


20 de agosto de 1935. O pequeno distrito de São José dos Cordeiros pertencente a Comarca de São João do Cariri estava em plena campanha política. Naquele dia, o “Zeca” Gaudêncio, ex-senador da Paraíba tinha voltado do exílio político de Portugal após o trágico Movimento de 1930. Assim, na casa de Antero Torreão, líder dos Gaudêncios naquele distrito, “Zeca” discursou sobre a felicidade de estar voltando ao Cariri. Simultaneamente, os Britos estavam presentes na mesma rua de Antero, na casa de Líbio de Farias Castro. Oscar e Durval Torreão, filhos de Antero, vinham mantendo intrigas com Líbio e tinham marcado um acerto de contas para um possível encontro. Fato que aconteceu no fatídico 20 de agosto de 1935.

No meio do discurso de “Zeca” Gaudêncio, um grito de protesto ecoou no ar e um disparo mirado em Oscar Torreão que estava no palanque improvisado atingiu o “Paizinho” Caluête de Parari. Oscar olhou na multidão assustada e fitou em Líbio. Em passos longos, Oscar alcançou Líbio e o agarrou-o pelas costas. Ao apertar o pescoço, Líbio disse: “Mata, mas agora você está matando um homem”, e assim Oscar estrangulou o integrante dos Britos. Após o ocorrido, o vaqueiro Cícero Figueiredo arremessou uma pedra na cabeça de Líbio, com este já caído. Após curto tiroteio, o professor Pascoal Trocolli saiu em protesto na rua: “bando de bandido, mataram Líbio, atirem aqui se tiverem coragem”! Foi quando Ascendino Gaudêncio exigiu para que Pascoal deixasse a briga entre Britos e Gaudêncios. Pascoal continuou o protesto, assim Ascendino a uma longa distância se ajoelhou e acertou Pascoal o ceifando.

Após o ocorrido, os Gaudêncios se refugiaram nas proximidades de Taperoá e logo depois, Itapetim. Os Britos com o apoio das forças policiais prenderam o padre Apolônio Gaudêncio, que por um capricho da esposa de um soldado, conseguiu fugir. Após a fuga dos Gaudêncios, correligionários dos Britos atearam fogo no armazém de algodão de Antero Torreão. O fogo, segundo relatos orais, ficou aceso por dias.

O governador Argemiro de Figueiredo mandou os delegados de Monteiro e Campina Grande para a região além de enviar um caminhão de praças para manter a paz no lugar. Sobre a apuração do inquérito não tivemos acesso, mas provavelmente o mesmo se encontra em São João do Cariri.
O tiroteio de São José dos Cordeiros demonstra a continuação da cultura coronelista após-1930 na Paraíba além de ser um fato que entrou na história do Cariri por iniciar os constantes tiroteios entre as famílias tradicionais da antiga Comarca de São João do Cariri.

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