Um trabalho científico sobre o cultivo da soja no Cariri paraibano para utilização na alimentação animal, realizado no Centro de Desenvolvimento Sustentável do Semiárido da UFCG, vem apresentando dados positivos. A bolsista de iniciação científica (PIBIC), Gérsia Gonçalves de Melo, estudante do curso de Engenharia de Biotecnologia e Bioprocessos, tem comemorado bons resultados em seu trabalho “Seleção de genótipos de soja tolerantes às condições edafoclimáticas do Cariri paraibano como suporte à caprinocultura de leite”.
A pesquisa se caracteriza como uma etapa de pré-melhoramento da soja e tem como objetivo, identificar genótipos (totalidade de genes) de soja mais adaptados à estresses abióticos do Cariri paraibano, sobretudo no que se refere à salinidade. Inicialmente foram testados 150 genótipos em ambiente de casa de vegetação sob substrato salinizado artificialmente. Em seguida, os materiais que se destacaram foram testados em laboratório para diversos parâmetros de acordo com as Regras de Análise de Sementes.
“Baseando-se nestas etapas anteriores, foram selecionados cinco genótipos promissores quanto à tolerância à salinidade, os quais se encontram em testes biométricos a campo, em solo de alta salinidade (condutividade de 11,82 dSm-1). Nesta terceira etapa, foram mensuradas porcentagens de germinação acima de 90%. Alguns materiais que não germinaram anteriormente em casa-de-vegetação e em laboratório (sob diferentes concentrações salinas), também foram plotados como testemunhas a campo, onde nem sequer emergiram do solo”, destacou o professor Demerson Sanglard, orientador da aluna.
“Constata-se até então uma grande variabilidade genética para o caráter em questão, o qual possui herança quantitativa – condicionada por muitos genes simultaneamente. Com o avanço do ciclo da cultura, também serão quantificados os comportamentos de vários outros parâmetros genéticos influenciados pela baixa latitude (fotoperíodo longo): número de dias até o florescimento; número de dias até a maturação; número de vagens por parcela; "stand" final; peso de 100 sementes; número médio de vagens por planta; número médio de sementes por planta e produtividade geral”, disse.
A soja na produção animal
A produção de leite caprino depende diretamente da aptidão do animal, do sistema de manejo e, sobretudo, do valor nutritivo da alimentação. Os gastos com rações e suplementos são responsáveis por cerca de 70% dos custos de produção de leite e carne. Nem todas as proteínas vegetais são iguais e, no caso da cultura da soja, existe extensa comprovação de sua superioridade qualitativa em relação a outras fontes protéicas, tradicionalmente utilizadas para o rebanho caprino.
Segundo dados do último Censo Agropecuário, existem 21 mil 863 produtores de caprinos na Paraíba, com um rebanho médio de 20 animais por propriedade. O PIB gerado pela atividade soma 20,3% do setor primário, o que gera uma receita de R$ 125,1 milhões ao ano. A capacidade de germinação de sementes em amplas condições é um dos critérios que norteiam a manifestação de vigor, que depende, entre outros fatores, das condições ambientais encontradas no local onde são semeadas. No semiárido brasileiro são encontrados corriqueiramente solos e fontes de água com altos índices de salinidade. Nestes casos, a semente deverá ser vigorosa para que supere tais obstáculos.
De acordo com o professor, o melhoramento genético da soja poderá propiciar seu cultivo sob as condições de solo e clima (edafoclimáticas) do Cariri paraibano. Com a produção regional desta cultura, poderá ser garantida a independência dos caprinocultores em relação a esse insumo, até então importado de outras regiões tradicionalmente produtoras, distantes geograficamente.
“Este é um trabalho preliminar e ainda demandará novos cruzamentos e avanços de gerações por alguns dos métodos de melhoramento clássicos, os quais poderão ser assistidos por ferramentas biotecnológicas. Além disso, serão necessárias diversas avaliações em vários ambientes dessa região-alvo durante alguns anos. Nesta dinâmica, esperamos futuramente o lançamento de uma espécie ‘BRS Cariri’, o que certamente implicará em um impacto econômico positivo para a região”.
“Agradecemos a equipe da Escola Técnica Deputado Evaldo Gonçalves de Queiroz (Escola Agrícola de Sumé), especialmente à diretora Fátima Silva e aos professores Romero e Augusto pelos incentivos e apoios logísticos nas estruturas cedidas para o experimento”, finaliza o professor. |