Reza não traz chuva .



Pedro Nunes critica a inércia do sertanejo e afirma que o problema da seca não será resolvido com reza
REZA NÃO TRAZ CHUVAS

Estou certo de que, enquanto o sertanejo do semiárido nordestino viver ligando a vinda de chuvas à vontade divina, haveremos sempre de padecer. Melhor é prevenir-se. Deus não socorre os incautos. Atribuir o fenômeno das secas à vontade suprema é atitude mental de populações primitivas, habitantes do mundo em eras muito remotas. Deus dotou o homem de inteligência para que, pelos caminhos da investigação científica, compreenda os fenômenos da natureza e neles interfira a seu favor. Não convém que populações afetadas pelas secas continuem com pensamento religioso igual ou um pouco melhorado que os homens das cavernas. A ciência não é contra a religião. É contra tudo que é inverdade, é contra atitudes mentais ilusórias e prejudiciais ao ser humano. Vamos evoluir para não atribuirmos calamidades, terremotos, tsunamis, tufões, secas, fomes, pestes, doenças e pragas à vontade de Deus.  A natureza sempre será rebelde e violenta. Nos casos em que não for possível dominá-la, importa utilizar a inteligência para nos proteger contra os efeitos adversos que ela provoca.

Ao invés de reagir e buscar soluções, é muito cômodo acomodar-se. Conformismo vai de encontro aos ditames da inteligência suprema que projetou o ser humano para uma caminhada evolutiva e ascendente. Que os habitantes das cavernas considerassem raios e trovões manifestações da ira divina, diante do estágio cultural em que se encontravam, hoje é perfeitamente compreensível. Mas nós, depois de tantos avanços científicos e teológicos, não temos motivos para pensar assim. Melhor que rezar pedindo chuvas é construir cisternas, poços artesianos, açudes, fazer transposição de águas, investir em culturas forrageiras tropicais, cavar silos, irrigar, cuidar das florestas e do meio ambiente. Nada disso é feito por conta de deseducação, falta de meios e irresponsabilidade das autoridades governamentais.

Em países de clima frio, quando o inverno chega, os campos cobrem-se de gelo, o verde some, as árvores perdem suas folhagens, os animais hibernam, as populações agasalham-se e amontoam-se em volta de lareiras. Aqui, é a seca que mata e queima a vegetação, lá, o frio, as geadas e a neve. São dois fenômenos naturais opostos que causam os mesmos resultados. A diferença é que lá o enfrentamento é técnico, aqui, é religioso. Lá, o homem reage e interfere, aqui, planta-se de joelhos e põe-se a rezar. Se é Deus que manda chuva, é ele também que suprime. Isso não tem lógica alguma. Não é verdade uma coisa nem outra.

Padecemos de uma deformação religiosa herdada da colonização portuguesa. Quando Tomé de Souza chegou à Bahia em 1549 para colonizar as terras brasileiras, ao invés de cientistas, trouxe jesuítas. Já na caravana de Maurício de Massau, que chegou ao Recife em 23 de janeiro de 1637, vinham poetas, historiados, pintores, mas também diversos cientistas de renome. Atitudes mentais diferentes.

Insisto que, ao invés de socorrerem-se de preces, as populações afetadas pelas secas deveriam ir às ruas protestar contra a corrupção, contra governantes incompetentes e desonestos que teimam em continuar desavergonhadamente solapando o dinheiro público.

Fiquem certos de que o problema das secas não será resolvido com rezas, e sim, com atitudes: educação, politização, pesquisas científicas, planejamento e avanços tecnológicos.

É por aí que caminham os planos de Deus.

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